quarta-feira, 21 de dezembro de 2011


Todo mundo é chato de perto. Começo esse texto com uma frase bem clichê, que foi usada pela Marília Pêra, dia desses, pra falar sobre as dificuldades de se manter um casamento. A frase pode ser clichê, mas seu sentido é inegavelmente verdadeiro. E eu não me refiro somente à relacionamentos amorosos, mas a qualquer um deles. Quem não pensa, durante o trabalho, em dar uma chave de braço naquele colega irritante que só fala abobrinhas? Ou, quantas vezes alguém aí já quis dar uns sopapos no amigo que não para de contar como está solitário após terminar o namoro?

Todos nós somos chatos. Chatinhos, irritativos. Basta uma intensa convivência para perceber. Falamos de coisas desinteressantes, temos alguns hábitos detestáveis e manias que não merecem ser descritas. E, mesmo assim, gostamos de reclamar de como os outros são chatos. Não percebemos, na verdade, que estamos falando de nós mesmos. Costumamos criticar aquilo que não conseguimos aceitar nos outros, mas não vemos que algo só incomoda quando não somos tolerantes. Tudo bem, nem tudo deve ser tolerado, mas a maioria das coisas, pode.

E, enquanto estamos ali, tentando mudar os outros, perdemos a oportunidade de nos modificar. Talvez, se nos colocássemos no lugar daquele que nos incomoda, perceberíamos como ele também nos acha chato e passaríamos mais tempo pensando em nós.


Sabem o que é pior do que sentir dor? Ter medo de sentir dor.

Nossos medos são os problemas mais difíceis de encarar. Sim, porque quando existe uma dificuldade externa, você vai lá e resolve. Agora, o temor ou o pavor que o cérebro cria em relação as coisas só pode ser solucionado pelo próprio criador. E como?

Transformar padrões de pensamento não é uma atividade simples, nem possui fórmula pronta. Exige muito esforço e tentativas. E o resultado, quase sempre, é desanimador. É preciso ter paciência e vontade. E, às vezes, aprender a conviver com as engenhosidades de nossa mente.

Enfim, não creio que exista um caminho único para superar as temerosidades, até porque cada um tem seus próprios medos, peculiares, estranhos, engraçados. Eu tenho medo de sentir dor. E eu sempre sinto dor. No fundo, eu sei que só vou parar de sentir dor quando deixar de ter medo. Aí, voltamos à questão anterior: como? Já usei várias táticas, mas ainda não encontrei a correta. Enquanto isso, vou tentando. Algum dia dá certo.


Confesso, às vezes me sinto decepcionada comigo. Tenho me portado de forma intolerante e perdido o controle com coisas pequenas. Coisas insignificantes. Pura implicância, sabe? É como se o tanque de pequenos incômodos estivesse transbordando, e cada nova gotinha fizesse muita diferença. No fundo, é tudo resultado de uma mistura de estresse, insegurança e imaturidade. Mas quem nunca?


É, eu sei que tenho que melhorar. E me cobro muito, neste sentido. Me cobro demais, às vezes, e me culpo por andar à passes lentos. Porque eu queria ser perfeita, queria ter todas as qualidades do mundo, mas quem nunca?

Reluto, sim, em ceder às mudanças. Sou orgulhosa. Quero tudo do jeito que imagino que deve ser. Mas ando descobrindo que tudo pode ser mais leve se eu aceitar as tortuosidades do caminho. Aceitar as minhas tortuosidades. Ainda preciso aprender muito, soltar as rédeas, me soltar. Mas quem não precisa?