0
comentários
Essa não é a primeira vez que eu penso no assunto, mas
certamente é a primeira em que eu faço isso tão copiosa, entre a tristeza e a
alegria de perceber que eu não seria ninguém se não escrevesse. Não é uma
hipérbole: sem um teclado para desabafar – ou um lápis e um bloco de notas -,
acredito que já teria concretizado algumas daquelas besteiras que me vêm à
mente em momentos insanos, quando já não aguento mais essa dor que, por vezes,
rasga meu peito, aperta meu coração e não encontra espaço para ressoar entre ouvidos
capazes de escutar e compreender.
É por isso que eu escrevo: para jogar ao mundo meus
problemas, talvez no desejo de encontrar uma resposta carinhosa e afável vinda
de algum lugar distante; talvez para descarregar de meus ombros todo esse peso
sentimental que guardo dentro de mim e nunca consegui expelir de outra forma.
Já me disseram que é da dor que nasce a melhor arte, a mais
bela. Eu discordo. Não creio que falar sobre si mesmo seja uma forma de arte,
nem que a identificação dos leitores ocorra pelo mérito criativo. Na maioria
das vezes, apenas nos identificamos com os problemas dos outros e, nesse
processo de acolhimento, tomamos como nossas as palavras deles, porque parecem
que foram feitas especialmente para nós. E foram. Todos nós sofremos com coisas
tão parecidas, mas não nos comunicamos, temos medo de falar! Temos vergonha de
sofrer e por isso nos trancamos em nossos quartos para chorar; ou colocamos um
sorriso no rosto para esconder da sociedade aquilo que pensamos que ninguém
vivencia.
Sejamos sinceros para admitir que nossa vida é mais o
inferno do que o céu. É exatamente isto que estou tentando ser e esse é o real
motivo que me leva a escrever.