Essa não é a primeira vez que eu penso no assunto, mas certamente é a primeira em que eu faço isso tão copiosa, entre a tristeza e a alegria de perceber que eu não seria ninguém se não escrevesse. Não é uma hipérbole: sem um teclado para desabafar – ou um lápis e um bloco de notas -, acredito que já teria concretizado algumas daquelas besteiras que me vêm à mente em momentos insanos, quando já não aguento mais essa dor que, por vezes, rasga meu peito, aperta meu coração e não encontra espaço para ressoar entre ouvidos capazes de escutar e compreender.

É por isso que eu escrevo: para jogar ao mundo meus problemas, talvez no desejo de encontrar uma resposta carinhosa e afável vinda de algum lugar distante; talvez para descarregar de meus ombros todo esse peso sentimental que guardo dentro de mim e nunca consegui expelir de outra forma.

Já me disseram que é da dor que nasce a melhor arte, a mais bela. Eu discordo. Não creio que falar sobre si mesmo seja uma forma de arte, nem que a identificação dos leitores ocorra pelo mérito criativo. Na maioria das vezes, apenas nos identificamos com os problemas dos outros e, nesse processo de acolhimento, tomamos como nossas as palavras deles, porque parecem que foram feitas especialmente para nós. E foram. Todos nós sofremos com coisas tão parecidas, mas não nos comunicamos, temos medo de falar! Temos vergonha de sofrer e por isso nos trancamos em nossos quartos para chorar; ou colocamos um sorriso no rosto para esconder da sociedade aquilo que pensamos que ninguém vivencia.

Sejamos sinceros para admitir que nossa vida é mais o inferno do que o céu. É exatamente isto que estou tentando ser e esse é o real motivo que me leva a escrever.